Figura 1 |
O bebê quando está dentro da barriga da mãe movimenta-se no
líquido amniótico e tem a percepção desse ambiente. Ainda na barriga da mãe
adota uma postura flexora com cifose das curvaturas da coluna vertebral (figura
1).
Quando o bebê nasce, ele se depara com uma nova realidade:
a presença da gravidade, que dificulta sua movimentação e a necessidade de
desenvolver uma nova percepção do meio que o cerca.
O desenvolvimento motor apresenta uma sequência lógica e é
acompanhado pelo desenvolvimento de outras capacidades, como cognitiva
(pensamento, inteligência) e emocional. Vários fatores influenciam no
desenvolvimento motor, como a mielinização
(amadurecimento do Sistema Nervoso), liberação de hormônios (Hormônios
da tireoide, por exemplo) e estimulação ambiental, dentre outros. Dessa forma,
embora existam idades específicas para o aparecimento das habilidades motoras,
pode haver diferença entre uma criança e outra.
De uma forma geral, as crianças tendem a diminuir a postura
flexora com o tempo e com o desenvolvimento da musculatura; ainda evoluem de
atividade reflexa para atividade voluntária e de atividades mais simples
(bilaterais) para mais complexas. É possível verificar que os bebês desenvolvem
primeiramente os movimentos do plano sagital (extensão/flexão), depois os
movimentos do plano frontal (inclinações laterais de tronco) e finalmente os
movimentos de rotação e contra rotação, no plano transverso.
Em seguida segue uma
breve descrição do desenvolvimento motor do ponto de vista biomecânico:
POSTURA PRONO:
Nessa postura acontece a aquisição do 1º
componente de movimento contra a gravidade, isto é, o desenvolvimento da força
de extensão e controle do pescoço, tronco e quadris. Enquanto as atividades de
extensão e a força aumentam, os flexores antagônicos são alongados através da
inervação recíproca, se preparando para a ativação. Os ligamentos anteriores nas articulações da
coluna, quadris e extremidades são alongados e ganham mobilidade na extensão.
Recém-nascido
Por conta da posição
fetal, apresenta-se em uma posição fletida e com uma hipertonia fisiológica
durante o primeiro mês de vida. A Contratura de flexão nos quadris e cifose da
coluna lombar e torácica fazem com que a face e a cabeça do recém-nascido
sirvam como ponto de estabilidade (fig 2).
Figura 2 |
Um mês
A ação da gravidade estimula o desenvolvimento da extensão
ativa contra a gravidade com rotação de pescoço ativando a musculatura do
pescoço. Levantar a cabeça em prono proporciona o alongamento dos músculos anteriores
do pescoço e contração dos posteriores.
Dois meses
Nessa
fase o bebê é muito assimétrico e está presente o RTCA. Aos 2 meses, quando a
extensão é forte, a criança tenta usar
ativamente a extensão torácica em prono para ajudar a elevar a cabeça usando a
adução escapular através do trapézio (fibras medias) e rombóides. Há alongamento do peitoral. A Abdução na
horizontal do úmero fornece ampla base de suporte para a criança se
estabilizar, elevar a cabeça e girar.
A abdução dos quadris ajuda a descer a pelve em
direção à superfície de apoio. Isso facilita a mudança do ponto de estabilidade
da face para a parte superior do peito e antebraços, que assim encoraja o levantamento
transitório da cabeça.
Três meses
Durante o terceiro mês ocorre a transição do período mais assimétrico
para a simetria no desenvolvimento da
criança. A extensão antigravitária simétrica do pescoço e tronco é também
adquirida no tórax e aparece na área inferior das coluna. Isso acontece quando
o ponto de estabilidade dinâmica para a elevação da cabeça (fig 3)e o chutar das
pernas é dado pelas costelas inferiores. O controle de extensão simétrica é
essencial para a elevação da cabeça em linha média.
Figura 3
O chutar ativo das pernas leva a ativação dos glúteos máximos, reduzindo
a contratura do iliopsoas, da
porção anterior da cápsula do quadril. Forças de compressão
são aplicadas ao colo e à cabeça do fêmur para diminuir coxa valga e para
aumentar a profundidade do acetábulo se inicia.
Quatro meses
A caixa torácica e a clavícula começam a se mover para
baixo (estabilidade), permitindo musculatura
do pescoço ficar ativa. A escápula se move ao redor da caixa torácica e o úmero
se move para frente com flexão umeral, adução e rotação neutra. O antebraço inicia
do suporte e transferência de peso = Puppy curto (fig4). O ponto de
estabilidade é na barriga e fêmur.
Cinco meses
A criança realiza apoio das mãos com os cotovelos
estendidos (Puppy longo, fig 5). O ponto de estabilidade e suporte do peso para
a função da cabeça, mãos e movimento intencional das pernas chega na pélvis.
Ocorre aumento da lordose lombar e anteroversão pélvica. A posição do sapo dá
lugar à extensão de quadris, joelhos e tornozelos com adução dos quadris no
lado sobrecarregado da pélvis e tronco.
Seis meses
A criança usa o arrastar
de barriga para se locomover.
Sete
meses
O bebê consegue a posição
mãos e joelhos (quatro apoios) com todas as extremidades abduzidas e alinhadas
simetricamente. Balançar, para frente e para trás nessa posição, ativa a
musculatura estabilizadora ao redor do quadril e aplica força compressiva na
cabeça e colo do fêmur e no acetábulo (fig 6).
Figura 6 |
POSIÇÃO SUPINO
A
posição supino é de grande estabilidade, oferecendo apoio para toda a cabeça e
tronco. O controle e a força de flexão contra a gravidade se desenvolvem em uma
direção céfalocaudal e seguem de perto o componente de extensão. A flexão é
geralmente estabelecida um mês após a aquisição da força e controle de extensão
do pescoço e tronco contra a gravidade. De acordo com a progressão, a extensão
antigravitária é adquirida no quinto mês e a flexão é estabelecida durante o
sexto mês.
Recém
Nascido e Primeiro mês
Flexão
fisiológica, cabeça para o lado.
Segundo
mês
A assimetria torna-se evidente à medida que o
RTCA se torna forte e consistente. O bebê de 2 meses em supino faz movimentos
sem intenção em grandes amplitudes de
abdução, adução, e pequena amplitude de flexão do úmero. Os movimentos são
possíveis, pois a cabeça, escápula e coluna são mantidas apoiadas. A gravidade
e os movimentos realizados pela criança trabalham no alongamento dos peitorais,
bem como ajudam na expansão da caixa torácica. Forças
gravitacionais e chutar ao acaso se combinam para reduzir a contratura de
flexão do quadril.
Três meses
Postura
simétrica e atividades bilaterais de extremidades superiores e inferiores são
dominantes nesse período (movimentos de
braços e pernas).
O bebê
de três meses consegue manter a cabeça na linha média por longo período de
tempo, consegue olhar para baixo em
direção ao peito, pois o queixo consegue
se mover para dentro e para trás (Thin tuck). Isso significa flexão
ativa de cabeça em uma coluna cervical estável. A estabilidade do tronco é
conseguida através do recrutamento da sinergia flexora, incluindo a ativação
dos peitorais, reto abdominal e extremidades. As pernas estão numa posição de
“sapo”, com flexão de quadris e joelhos, levando ao contato pé-a-pé e pé-a-perna,
iniciando o processo de auto-exploração
e conhecimento corporal.
Quatro
meses
Aos 4
meses a criança já desenvolveu atividade muscular simétrica bilateral, de forma
que a caixa torácica e as clavículas iniciam o processo de se mover para baixo (estabilizando),
enquanto a musculatura do pescoço continua ativa.
Postura
simétrica e atividade bilateral de membros superiores e inferiores são
dominantes neste período. Junta as mãos no espaço, alcança para baixo para
tocar o joelho e/ ou a perna e pode também fazer uma flexão maior se segurando
com as mãos (distal) para fazer mais
atividades proximais (mãos/olhos/joelhos).
A
criança pode perder o controle quando elevar as pernas. A pelve cai para um dos
lados. Em consequência, teremos rotação da coluna, resultando no alongamento
dos tecidos moles posteriormente entre a caixa torácica e a pelve, ou seja, o
quadrado lombar e o grande dorsal e o rolar acidental. O bebê repete essa
atividade muitas vezes, pois gosta da sensação e vira de lado sempre que for
estimulado, ou se algum objeto chamar sua atenção.
O rolar
para prono ainda não é possível, pois a flexão do quadril que está por baixo
bloqueia o movimento.
As
mãos do bebê de quatro meses estão geralmente abertas quando ele tenta pegar o
objeto.Polegares continuam a ser mantidos próximo da palma da mão.
A
criança com quatro meses ainda não é capaz de soltar voluntariamente os
objetos, no entanto, é a manipulação que faz com os dedos na linha média nesta
fase, que prepara a criança para transferir objetos de uma mão para outra .Essas
atividades são preparatórias para o soltar
controlado ou voluntário no espaço.
Cinco
Meses
Reação
de retificação da cabeça está completa no final do quinto mês, e o controle
funcional da cabeça está presente em todas as posturas. No quinto mês, quando
puxado para sentar, o bebê faz flexão e eleva a cabeça, com o queixo para
dentro. Manobra de tração. (Fig 7)
Figura 7 |
O bebê
de cinco meses continua a usar o padrão bilateral de alcance, mas agora, uma
mão agarra o objeto e a outra mão vem ajudar. A criança de cinco meses tem todos os
graus de liberdade de movimento na parte superior da caixa torácica e
braços.
O bebê pode agarrar o pé e trazê-lo à boca
para explorar e brincar. Brincar e
colocar o pé na boca oferecem um caminho para melhora a consciência corporal Ainda,
a cápsula posterior da articulação do quadril está sendo mobilizada em virtude
da posição de extrema flexão do quadril e os músculos posteriores da coxa
alongados.
Os
movimentos de pernas bilaterais do período anterior dão lugar aos movimentos
individuais da perna. A posição pé-na-boca estabiliza a pélvis numa inclinação
posterior (retroversão), enquanto a perna livre
chuta para longe do corpo. O chute fortalece extensores e alonga flexores
no quadril.
Seis
meses
O
componente de controle e força de flexão contra a gravidade se completam em
supino aos seis meses. Podemos dizer que
a criança já adquiriu controle de flexão em supino quando está apta a fazer o
seguinte:
- Manter todas as extremidades estendidas no espaço acima do tronco. Isso demanda força e controle dos abdominais.
- Levanta a cabeça da superfície de apoio independente
- Faz rotação da pelve sobre os ombros ou vice versa. A ação dos abdominais oblíquos é evidente enquanto o brincar com o pé continua. A criança está agora apta a rolar dissociando a pelve dos ombros na transição de supino para prono.
POSTURA
SENTADA:
Necessário: anteroversão pélvica e extensão da coluna contra
gravidade. A criança adquire a habilidade de manter posição sentada e com
apoio quando colocada com 6 meses. Nessa idade, senta-se em anel para aumentar a
base de suporte, uma vez que o controle de tronco não é perfeito.
Quando a criança ganha controle de flexão e extensão
contra a gravidade e melhora no controle de tronco e ainda aperfeiçoa as reações
posturais, consegue sentar-se sem apoio aos 8 meses de idade Fig 8.
Figura 8 |
POSTURA GATAS/
ENGATINHAR
• Atividade recíproca = aplica suporte de peso diagonal
– locomoção
• A mesma atividade recíproca (contra-rotação) vai ser
importante para marcha
• A descarga de peso ajuda formação do acetábulo e
fortalecimento da musculatura do quadril
• A criança inica o engatinhar entre 8 e 10 meses.
AJOELHADO/EM PÉ
• Com a maturação há tendência de aquisição de posição mais vertical
• Ë uma progressão da posição de quatro - sentar-se sobre os
joelhos
• Gera estímulos táteis, proprioceptivos: descarga de
peso.
• Rotação ativa dos quadris: transições entre sentar de
lado, ajoelhado e sentado.
• Alonga e fortalece musculatura de tronco e quadris
MARCHA
• A criança adquire a marcha entre 12 e 15 meses (fig 9)
• A marcha é primitiva, por falta de equilíbrio a
criança exibe:
–
Base alargada
–
Pouca reciprocação
–
MMSS elevados
Figura 9
Considerações:
A criança não precisa
estar realizando perfeitamente uma etapa motora para iniciar a etapa seguinte.
Quando adquire uma etapa mais evoluída, aprimora a etapa anterior.
O desenvolvimento motor é
muito complexo e envolve ainda os reflexos e reações do desenvolvimento que não
foram abordadas nesse texto.
Embora haja variação individual
e entre autores, abaixo está uma tabela (fig 10))com a idade de aquisição das
principais etapas motoras. Conhecer o desenvolvimento motor do ponto de vista
biomecânico é fundamental para um fisioterapeuta conseguir avaliar o porquê
determinada criança não realiza determinada etapa e, com isso, elaborar
estratégias eficientes para ajudá-la a desenvolver.
Figura 10 |
Os pais devem ficar
alertas e em qualquer sinal de desconfiança, consulte um pediatra.
São muitas as causas de
atraso no desenvolvimento motor e a fisioterapia pode ajudar. Veja na próxima
postagem.
Texto escrito por:
Michelle Brandalize
INTEGRAL FISIOTERAPIA E SAÚDE
Referências
GALINELEO, MTB. DESENVOLVIMENTO MOTOR NORMAL ASPECTOS BIOMECÂNICOS E
CINESIOLÓGICOS NO BEBÊ DE 0 A 12 MESES E SEUS DESVIOS. 2003.
Oi. Não achei a outra postagem referente a esse assunto. Gostaria muito. Foi muito esclarecedor pra min
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